quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Virtual partilha



Do meu comentário para o seu comentário. Dito assim é como se as palavras ditas/escritas tivessem irmanado sensibilidades que vivem e se exprimem nesta partilha de recados e, que nos surpreendem com mimos, como um pressuposto desta virtual amizade. Ao mesmo tempo que atribuindo "anima/alma" aos comentários transformando-os em entidades independentes, iludimos (eu e você) a vigilância do ciumento Big Brother, desta "esquizoide" aplicação. Creio que, desta maneira, os ciúmes, essa aberração sentimental, não vão impedir-nos de realizamos o objectivo de nos podermos brindar com uma escrita "anexada" de mimos" A ver vamos. Enquanto meto estas palavras em carreirinha para que "ordenadamente" as ideias cheguem até si, repasso o trecho musical do Miles Davis que da primeira vez o "ciumento", nós já sabemos quem é, impediu de chegar aos seus ouvidos construindo uma atmosfera de emoções suaves e carinhosas que a envolveriam, num outro tempo, para onde só a música é capaz de nos levar. No momento em que lhe escrevo este "recado" no ar misturam-se os sons que, "soprados" pelo trompete, desafiam a gravidade e mantêm-se suspensos por algum tempo; a flutuar. A sua intrínseca matemática, gere-lhes a vida; breve mas intensa. Em cadeia e em interacção, atravessam o espaço, deslumbram-nos por segundos e, depois morrem como estrelas cadentes que se perpetuam na (nossa) memória por via das emoções exaltadas. Os sons/a música inscrevem-se nos destinos de naturezas trágicas como a beleza. E só têm sentido nesse tempo efémero. Tal é a necessidade do seu transcendente equilíbrio, da sua fundamental harmonia. Fora dum tempo breve toda a beleza desafia as limitações humanas para a entender. Fora desse tempo breve os sons transformam-se em ruidosas sonoridades que ferem o ar. Aqui, em minha casa, a ordem dos sons continua a fazer música. Continuo a desfrutar da sua beleza. É uma atmosfera de prazer envolvente. Suspendo a escrita para corresponder com uma trinca num, aparentemente, delicioso pêssego que tenho ao meu lado. Encho a boca de uma textura vegetal e aromática que me mobiliza o sentido do gosto e a mistura com os outros sentidos numa atmosfera já excitada pelos sons. É um carrossel de pequenos prazeres a que não sei pôr ordem. Paro. Tento encontrar o princípio e o fim de cada um destes prazeres. Não consigo. Volto a tentar. Resolvo parar a escrita e dedicar-me a estes momentos de prazer intenso que se completam e me completam.

As últimas notas do piano sobem lentamente deixando adivinhar o fim da música e a amputação deste meu (delicioso) momento. Acabou. Como prometido vou passar-lhe este testemunho. Este mimo. Como convencionamos chamar-lhe. Oxalá também em si ele encontre a receptividade emocional que o faça viver mais algum tempo.

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